Entrevista Milton Santos

Transcrevo aqui alguns trechos de uma entrevista com o professor e geógrafo Milton Santos no programa de televisão Conexão Roberto D'Ávilla em 1998. Procurei repdroduzir os trechos forma como foi falado e não como uma dissertação.

Sobre cidadania

No Brasil não há cidadãos, as classes médias não querem ser cidadãs, porquê querem privelégios. Os pobres não chegam a ser cidadãos. Chegamos a alguns bons resultados do ponto de vista do consumidor. A reclamação, o atendimento, mas o debate dos valores, eu acho que esse é o centro da questão da cidadania, a cidadania ela se amplia quando se amplia também a noção de valor, viver valorando as relações interpessoais, viver valorando a minha relação com minha terra, viver valorando a mim mesmo como pessoa forte. Tudo isso é posto de lado, a consequência é que os partidos tem dificuldade de serem partidos, porque os partidos acabam embarcando e acabam não tendo propostas coerentes, porquê se formos todos cidadãos os partidos são obrigados a fazerem propostas coerentes, seguindo linhas diferentes, indispensável em numa democracia, oferencendo alternativas. Se as alternativas forem somentes o consumo, se a oferta é só de coisas e mais um pouco de dinheiro, a idéia de cidadania se reduz e a democracia serve, fica o nome, porque continuamos a falar que há uma democracia no Brasil, será que há mesmo? ou há um sistema eleitoral, um eleitoralismo, cria a ilusão de participar, a ilusão ser parte de um processo de comando e na realidade a discussão pública dos grandes problemas não pode progredir.

Ano eleitoral e Eleições

A eleição fala da oposição e da situação, eu acho que é pouco, de uma pessoa que é um homem, não acho que é um homem, é um conjunto de idéias que se apresentam como caminho, a gente pega um terceiro conjunto de idéias, estão todos os partidos querendo ganhar as eleições, mesmo os de esquerda, imaginam que tem que ganhar. E aí, o trabalho pedagógico de explicação do mundo, explicação do país, propostas para cada lugar, para o país, o mundo fica para segundo plano. Há uma distorção do processo político que tem que ver com o fato de que os políticos não fazem mais política, como os aparelhos de estado tampouco fazem política. A política é feita pelas empresas, pelas grandes empresas (não todas). Algumas poucas empresas fazem política e os outros seguem, seguem... pedem um adiamento, não pode ser hoje mas daqui a dez dias, pede um prazo... eu acho que a gente tem que rapidamente mudar isso, só que este ano não há clima, justamente porque tem eleição. Com isso não estou dizendo que sou hostil a idéia de eleição, eu acho a política a atividade mais nobre, não vamos embarcar nisso de sair criticando os politicos, porque isso é uma atitude liberticida e "democraticida", mas tem que ajudar a corrigir os equívocos aos quais os partidos são arrastados.

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Abaixo os links para o vídeo da entrevista no YouTube, os trechos citados acima encontram-se na parte 4.

Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=q-bqDcU6X1w
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=Inp61wq2X_A
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=DCh2uyuI-ec
Parte 4: http://www.youtube.com/watch?v=CAKGmK5kc6E
Parte 5: http://www.youtube.com/watch?v=EKvErDINhtQ